terça-feira, maio 24, 2005
domingo, maio 22, 2005
Timothy Stotz
A reprodução do quadro que inseri no post anterior é da autoria de Timothy Stoltz, um dos meus pintores favoritos. "The fall" chamou-lhe o autor. Anjos Caídos somos todos nós, de uma forma ou de outra. Invoco Rilke:"Todo o anjo é terrível" --mas isso também pouco importa. O mais importante é sermos aquilo que instrinsecamente sabemos que somos: Anjos.
http://www.timothystotz.com/
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quinta-feira, maio 19, 2005
CINEMA E LITERATURA
A “dicotomia” Literatura/Cinema é tão problemática quanto a relação entre Música e Artes Plásticas, Cinema e Pintura, Música e Literatura, Teatro e Cinema, Arquitectura e Pintura, Cinema e BD, BD e Pintura, Cinema e Videoarte, etc. Há decerto muitas variantes, experiências e fusões. A História da Arte, sobretudo a partir do Modernismo, está cheia de profícuas transfusões de sangue entre as mais diversas e aparentemente distantes Artes. No entanto, insiste-se em Portugal, quanto a mim de uma forma um bocadinho excessivo, na dicotomia Literatura/Cinema (prefiro chamar-lhe vizinhança) como se as outras não existissem e não fossem igualmente problemáticas e problematizáveis. Até parece que se ignora que houve compositores que foram buscar "inspiração" à Literatura ou às Artes Plásticas para escrever as suas obras ou que certos cineastas plasmaram os seus planos segundo os cânones da Pintura de uma determinada época. Um exemplo clássico é Claude Debussy com o seu “Prélude à l'Après-midi d'un Faune”, obra inspirada no poema “Le Faune”, de Mallarmé. No entanto, não passa pela cabeça de ninguém afirmar que a “versão” de Debussy é necessariamente inferior ao poema de Mallarmé. E porquê? Porque o facto de uma obra ter como fonte de inspiração a obra de outro autor não a condena irremediavelmente a uma condição servil. Uma obra de arte é uma estrutura que não só obedece a leis internas próprias como também às do género em que se insere, ou seja, é uma entidade autónoma. Todavia, não é isto que se passa com a “dicotomia” (quanto a mim falsa) Literatura/Cinema. Num blogue de referência como é o “Da Literatura” (http://www.daliteratura.blogspot.com/) o crítico Eduardo Pitta refere o seguinte: “ (…) O cinema não tem de decalcar a literatura. Agora que chegou às salas portuguesas um novo filme adaptado de um romance de Michael Cunningham, e estou a falar de Uma Casa no Fim do Mundo, é altura de dizer que o filme é... melhor que o livro. Parece mas não é boutade. O facto é que os livros de Cunningham (n. 1952) «resultam» melhor no ecrã. Foi assim com As Horas (2002, o filme), é de novo assim com Uma Casa... Continuo a achar que são coisas diferentes. O meu ponto de vista é este: no seu caso, o patamar literário fica aquém do patamar cinematográfico (…)” Ora, parece-me que o autor deste texto incorre, no mínimo, em duas contradições: 1) afirma (e bem!) que “o Cinema não tem de decalcar a literatura” mas logo em seguida escreve que “o filme é…melhor que o livro. Parece mas não é boutade; ”; 2) “O facto é que os livros de Cunningham resultam melhor no ecrã”. Vamos por partes: a primeira contradição reside na necessidade, quiçá inconsciente, que o autor teve de recorrer à palavra “boutade”. Porquê “boutade”? Um filme pode muito bem ser melhor que o livro que lhe serviu de base (relembre-se, a título de exemplo, o filme Spartacus de Stanley Kubrick). Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A questão está em saber se o filme tem ou não qualidade, é isso que está em jogo. (A verdadeira boutade consiste, a meu ver, muito simplesmente em pensar-se aprioristicamente que o livro é sempre superior ao filme.) Além do mais, o Cinema tem, como é sabido, meios expressivos e estéticos próprios e não pode, por conseguinte, ser reduzido a uma espécie de estatuto ontológico menor. A segunda contradição é a seguinte: não me parece que os livros de Cunningham (ou de qualquer outro escritor) tenham obrigatoriamente de resultar melhor no ecrã. Não podem porque não foram feitos com esse propósito. No entanto, reconheço que a forte componente imagética dos livros deste autor, bem como o enredo e personagens bem vincadas podem, eventualmente, “facilitar” o trabalho do argumentista, mas isto não basta. Um filme é sempre uma versão de uma versão de uma obra. (Vejam-se, a título de exemplo, os livros teóricos de Syd Fied, o mestre do Screenplay americano). Talvez na origem desta “dicotomia” (tão desfavorável que tem sido ao Cinema…) esteja a questão da narratividade e o facto de este ainda ser uma Arte relativamente recente. Não sei. De qualquer das formas,
uma obra de arte, seja ela qual for, deve ser encarada como uma entidade autónoma, com as suas leis e processos semióticos próprios, e nunca em função da fonte que a inspirou. Esse aspecto é absolutamente secundário e um filme é sempre outra coisa.
uma obra de arte, seja ela qual for, deve ser encarada como uma entidade autónoma, com as suas leis e processos semióticos próprios, e nunca em função da fonte que a inspirou. Esse aspecto é absolutamente secundário e um filme é sempre outra coisa.
terça-feira, maio 17, 2005
PORTUGAL (5º versão)
Faz frio ser corpo
acolher como sepulcro
nos olhos
um país entre pálpebras
pacto cruel
pulsar de fumo
para não afundar o nada
que fixa o nosso rosto
que parte por dentro os nossos pais
a nossa diária sombra
acolher como sepulcro
nos olhos
um país entre pálpebras
pacto cruel
pulsar de fumo
para não afundar o nada
que fixa o nosso rosto
que parte por dentro os nossos pais
a nossa diária sombra
segunda-feira, maio 16, 2005
O ESPELHO SEGUNDO JASÃO (6º versão)
Rasgas uma língua coroada de fogo, mas em segredo. Talvez sejas um calor ferido em espelho largo. Ao virar da esquina outros navegam incêndios. O dia caiu. Em todo o caso, que rosto dói na minha lápide? Que lume pesado viaja pelos meus olhos?
Estou só em espelho. Do outro lado do muro há corpos cansados, calados— um corpo abrigado nos meus olhos. O teu corpo em dança líquida, rio branco acima, em círculo fechado. Não muito longe daqui há navegações, viagens veladas de viajantes loucos em espelhos ao romper do dia. Não muito longe daqui há corpos muito brancos feitos de espelhos largos rastos fugas desertos muito rápidos muito quietos.
Estou só em espelho. Do outro lado do muro há corpos cansados, calados— um corpo abrigado nos meus olhos. O teu corpo em dança líquida, rio branco acima, em círculo fechado. Não muito longe daqui há navegações, viagens veladas de viajantes loucos em espelhos ao romper do dia. Não muito longe daqui há corpos muito brancos feitos de espelhos largos rastos fugas desertos muito rápidos muito quietos.
domingo, maio 08, 2005
NOITE ALTA, VIAGEM ÁVIDA: O CORPO (5º versão)
Erguido em equilíbrio, vejo o corpo frágil de sempre as luzes do esplendor. Já ninguém rouba, já ninguém atraiçoa quem fui. Um dia, certa iluminação, apenas ela, amará a passo lento o meu corpo claro sombrio. Certa cintilação, apenas um dia, no cair de cada degrau, de cada estação, como uma viagem ávida.
eu sei: já ninguém rouba, já ninguém atraiçoa quem fui. Há pedras agulhas barcos nos meus olhos. Noite alta, viagem ávida. Bons dias dormi todo o corpo corre e desperta para a porta alta da luz,
apenas por um dia.
eu sei: já ninguém rouba, já ninguém atraiçoa quem fui. Há pedras agulhas barcos nos meus olhos. Noite alta, viagem ávida. Bons dias dormi todo o corpo corre e desperta para a porta alta da luz,
apenas por um dia.
sábado, maio 07, 2005
UM TRIUNFO CÚMPLICE DE BICHOS (3º versão)
Levanto os remos quando, à borda de água, me acordas. Cercados corremos sempre. Abrasadas línguas à boca da noite, corpos dispersos, um triunfo cúmplice de bichos. Em riachos súbitos remamos e remamos sem voz. A sono solto as correntes agitam alturas menstruações casas trevas lamaçais. Só assim abriremos dilúvios em vulcões, (afogadas manhãs de não sermos nada) , e apagaremos o dia ainda não erguido das mãos.