O que mais me impressiona neste quadro é o silêncio e o sentido ritual de cada gesto e de cada movimento. Por outro lado, a ilha é uma concha, um abrigo materno onde os anjos andam à solta. Uma obra notável (talvez dos mais bem conseguidos do Bocklin) que se enquandra perfeitamente na "escola" à qual o autor esteve ligado: o Simbolismo.
Retribuo a visita ao autor deste blog, que achei bem interessante.
As imagens escolhidas são de um extremo bom gosto.
Por outro lado, deixo o convite a quem por aqui passa, para visitar um blog de um outro contexto, virado para a música (mas não só), mais informativo que educativo, mas tudo de uma forma bem descontraída.
sem dúvida que tens um extremo bom gosto nas imagens. acho a escrita um bocadinho presa ao século xix, principio do século xx, se calhar as tuas leituras e interesses vão parar muito para essas bandas. não é que isso tenha algum mal, evidentemente, mas, por exemplo, um autor como josé agostinho baptista revisita o romantismo de uma forma consciente e contemporânea. ele acaba por ser simultaneamente romântico e actual. não é que a tua escrita seja má, antes pelo contrário, tens poemas muito bons, mas parecem algo estafados (por já haver muita coisa parecida nas épocas apontadas). enfim, espero que aches esta crítica contrutiva, e como todas as críticas pode ser refutada, meti.te nos "meus" links.
Quero agradecer desde já todos os vossos comentário e críticas--é bom saber que as nossas "coisas" encontram eco, que são lidas e criticadas por pessoas sensíveis e inteligentes. Quanto à tua critica, Rafael, gostaria de dizer o seguinte: sou, efectivamente, um leitor dos autores românticos num sentido muito lato, se considerarmos que poetas tão próximos de nós como Rilke, George Trakl e Paul Celan tb o são. No entanto, tb sou um profundo apreciador da poesia experimental (que infelizmente parece já ter passado de moda) a qual herança também não renego, apesar das aparências. Por outro lado, creio que se vive uma época de esgotamento, de finitude e de paradoxal renovação. Se reparares no que se está actualmente a fazer na poesia dita pós-moderna (norte-americana e inglesa mas não só) há como que um retomar da "tradição" (ou serão tradições?) mediante "jogos" intertextuais, citações e referências subtis aos legados poético. É por isso que acredito que o caminho a seguir será o da síntese pessoal desses bons fantasmas literários. Para finalizar, o meu apego ao imaginário deriva directamente da minha condição de ilhéu. Mais do que as leituras, os autores e os "Ismos" foi a vivência no Funchal que mais me marcou. Dezoito anos de nuvens baixas e de um oceano esmagador à volta (que tb "funcionou" como deserto e com tudo o que essa mitologia implica...), para além da solidão sufocante da ilha, faz dos ilheús pessoas diferentes e mais propensas às imagens.
Pois contrariamente a outros comentários, eu peço desculpa, mas acho essa ilha tenebrosa, claustrofóbica, o "locus horrendus" típico do romantismo - de que eu não gosto mesmo!!! Mas gosto do blog, atenção :)
Um silencio cuspido, De nervos tao tensos, quase inimagináveis, tanta dor oculta, Tantas palavras por dizer… Forma de expressão!? Penso, ao contrário de muitos, Que as palavras magoam mais do que um simples beijo de despedida.
É difícil viver com outros… É difícil ser diferente..ou simplesmente pouco sensível Ao que me dizem… Aguardo, nervosa, pelo final arrebatador que me pode atingir Como um tiro de pistola inserta. Falo do que penso…e penso no que sinto… É estranho..como esta vida é tao redondamente enganadora… Mentirosa por vezes…
Sinto que tantas certezas que tinha, São afogadas dentro de mim… E sem vontade de Crescer, mantenho-me nesta altura inabalável.. Sou fria…pelo que dizem.. Não… É mentira.. Sou facilmente perturbada.
Sinto que tudo me esvoaça entre os dedos… Como areia… Como açúcar que provei e me recuso a gostar, Pela dependência que causa…
Tão instável…tao estranhamente perdida… Não ouço mais a tua voz a ecoar nos meus sonhos.. Não me esforço. Tenho medo de cair desamparada… Sinto que não sou mais quem fui… Que crescer custa… Quanto mais velha pior… Mais custa… Mais doí…
Perder-te!?ou perder-me!? Orgulho!? Ou dor?! Culpada!? Ou culpabilizada!? Sentir?! Ou sentir-me?!
Em que nos baseamos!? De que nos fazemos!? Tenho medo de acordar, Olhar para o lado e não te ver… Mas…não percebo o que se passa outra vez… Loucura ou desvario!? Saudade!? Pena pelo que se foi!? Não sei… Apenas espero que me mostrem… Que me mostres…não me assustes…quero-te sincero! Quero-te!?
gosto do blog, como já puderam reparar sou escritora nata de poemas..um tanto ao quanto mórbidos...simplesmente alivio a tensão, para nao vomitar toda este mundo,que para mim, vive sobre podridão...muita gente prende-se há passagem terrea, outras simplesmente sao agarradas a coisas e a infelicidade..outras sao como eu...estranhas;)
Um cemitério é, por definiçao, no imaginário popular o "locus horrendus" por excelência, o paradigma do "Dasein" heideggeriano, o princípio do fim (?). Todavia, há neste quadro (ou será sonho?) algo que o torna num lugar aprazível, um "locus amoenus" de paz, silêncio e serenidade. Quanto a si, Bárbara, obrigado pelo seu contributo.
Sim, o cemitério é o locus horrendus por natureza, o Dasein de Heidegger, e exactamente por essa razão detesto cemitérios, assim como detesto a cultura neo-gótica e todo o tipo aproximação à "cultura sombrias". (Uma excepção: o gótico, o original, o primeiro e o mais primário!!! Sou paradoxal? Talvez!)Quanto à concha uterina, nesta pintura, não me inspira atracção pelo contexto escuro; por outro lado o Nascimento de Vénus, de Boticcelli, inspira-me, apesar de não estar dentro dos meus favoritos). O facto de estar, neste momento, a viver o luto por alguém muito próximo também não ajuda nada a uma aproximação a esta pintura. Até gosto de espaços claustrofóbicos, mas aqueles que são urbanos como os cenários "sujos" do "Blade Runner". Penso que sou irremediavel e excessivamente urbana... Obrigada pela resposta ao meu comentário! :) Isabel
Já tive um livro fabuloso sobre a obra de Bocklin, mas por razões que não vêm ao caso, "perdi-o". No entanto, há uma "coisa" que ninguém me pode roubar--a imagem de um quadro no qual ele retrata um ritual pagão no meio de um bosque. Olhei centenas de vezes para aquela pira a arder, bem como para as personagens que a circundavam e ouvi-lhes os murmúrios mais íntimos, as preces, os segredos que trocavam com a beleza antiga daquele lugar mágico. Em toda a obra de Bocklin pressente-se um sentido muito grande do sagrado que me inebria particularmente...
Bem... O teu blog tá espectacular não sabia que tinhas um. Já agora... Curtes este tipo de assuntos ó é so mesmo para dares uma de intelectual, é que tudo isto podia ser copiado... Não me interpretes mal, mas é que não conhecia esta tua veia artística... Mas já que estamos numa de comentar a imagem, merece dizer que a imagem evoca o silêncio e a quietude que envolve a morte. A morte deve ser o que o quadro tenta transmitir: o silêncio, paz e descansos eternos. Coisa que não existe, as mortes são cada vezz mais violentas e agonizantes. A morte digna é um direito tão importante como o direito à vida.
Tenho muitas veias que eu próprio desconheço. Todavia, de uma coisa estou eu certo e seguro: detestam copiar as veias dos outros. Quanto ao morrer em paz, sim, é um direito como outro qualquer. No entanto, estou convencido que cada um de nós é de certo modo o construtor da sua própria morte, pois a vida que leva, os pensamentos que alimenta e os actos que pratica acabam por estar directa ou indirectamente envolvidos no tipo de morte que o espera. Bem sei que toda esta conversa pode soar a budismo de pacotilha, mas é aquilo em que acredito. Para finalizar, só gostaria de saber com quem é que estou a falar…Obrigado pela tua participação.
22 Comentários:
Uma pintura muito bonita, cheia de simbolismo e misteriosa...
Sérgio Correia Jr
este será por certo um santuário onde alguém está prostados aos pés de outroalguém , quiçá um anjo. um belo exemplo de como uma pintura pode ter vida
O que mais me impressiona neste quadro é o silêncio e o sentido ritual de cada gesto e de cada movimento. Por outro lado, a ilha é uma concha, um abrigo materno onde os anjos andam à solta. Uma obra notável (talvez dos mais bem conseguidos do Bocklin) que se enquandra perfeitamente na "escola" à qual o autor esteve ligado: o Simbolismo.
Gostei muto do blog. A selecção das pinturas e os poemas.
Uma viajem magica.
Obrigada
um blog com "coisas" muito boas!
De link em link cheguei aqui. Gostei muito das referências que aqui encontrei. Voltarei, seguramente.
gostei muito do que vi aqui: bons poemas e imagens. continue esse trabalho.
Retribuo a visita ao autor deste blog, que achei bem interessante.
As imagens escolhidas são de um extremo bom gosto.
Por outro lado, deixo o convite a quem por aqui passa, para visitar um blog de um outro contexto, virado para a música (mas não só), mais informativo que educativo, mas tudo de uma forma bem descontraída.
É só espreitarem e logo vêm...
www.billy-news.blogspot.com
Até um dia...
Sergio Correia
Gostei de passar por aqui. Imprevistos foram os sinais que detectei na viagem.
Continuar é urgente
Olá sérgio.
sem dúvida que tens um extremo bom gosto nas imagens. acho a escrita um bocadinho presa ao século xix, principio do século xx, se calhar as tuas leituras e interesses vão parar muito para essas bandas. não é que isso tenha algum mal, evidentemente, mas, por exemplo, um autor como josé agostinho baptista revisita o romantismo de uma forma consciente e contemporânea. ele acaba por ser simultaneamente romântico e actual. não é que a tua escrita seja má, antes pelo contrário, tens poemas muito bons, mas parecem algo estafados (por já haver muita coisa parecida nas épocas apontadas). enfim, espero que aches esta crítica contrutiva, e como todas as críticas pode ser refutada, meti.te nos "meus" links.
um abraço
rafael
queria morrer ali!
Gostei do teu blogue, voltarei mais vezes,
1 beijinnho da
mariagomes
Qual o contacto da Bárbara Teixeira? Deixo o meu a ela:
atitlan@mail.com
Gostei bastante do seu blog.
Quero agradecer desde já todos os vossos comentário e críticas--é bom saber que as nossas "coisas" encontram eco, que são lidas e criticadas por pessoas sensíveis e inteligentes. Quanto à tua critica, Rafael, gostaria de dizer o seguinte: sou, efectivamente, um leitor dos autores românticos num sentido muito lato, se considerarmos que poetas tão próximos de nós como Rilke, George Trakl e Paul Celan tb o são. No entanto, tb sou um profundo apreciador da poesia experimental
(que infelizmente parece já ter passado de moda) a qual herança também não renego, apesar das aparências. Por outro lado, creio que se vive uma época de esgotamento, de finitude e de paradoxal renovação. Se reparares no que se está actualmente a fazer na poesia dita pós-moderna (norte-americana e inglesa mas não só) há como que um retomar da "tradição" (ou serão tradições?) mediante "jogos" intertextuais, citações e referências subtis aos legados poético. É por isso que acredito que o caminho a seguir será o da síntese pessoal desses bons fantasmas literários. Para finalizar, o meu apego ao imaginário deriva directamente da minha condição de ilhéu. Mais do que as leituras, os autores e os "Ismos" foi a vivência no Funchal que mais me marcou. Dezoito anos de nuvens baixas e de um oceano esmagador à volta (que tb "funcionou" como deserto e com tudo o que essa mitologia implica...), para além da solidão sufocante da ilha, faz dos ilheús pessoas diferentes e mais propensas às imagens.
Pois contrariamente a outros comentários, eu peço desculpa, mas acho essa ilha tenebrosa, claustrofóbica, o "locus horrendus" típico do romantismo - de que eu não gosto mesmo!!! Mas gosto do blog, atenção :)
Um silencio cuspido,
De nervos tao tensos, quase inimagináveis, tanta dor oculta,
Tantas palavras por dizer…
Forma de expressão!?
Penso, ao contrário de muitos,
Que as palavras magoam mais do que um simples beijo de despedida.
É difícil viver com outros…
É difícil ser diferente..ou simplesmente pouco sensível
Ao que me dizem…
Aguardo, nervosa, pelo final arrebatador que me pode atingir
Como um tiro de pistola inserta.
Falo do que penso…e penso no que sinto…
É estranho..como esta vida é tao redondamente enganadora…
Mentirosa por vezes…
Sinto que tantas certezas que tinha,
São afogadas dentro de mim…
E sem vontade de
Crescer, mantenho-me nesta altura inabalável..
Sou fria…pelo que dizem..
Não…
É mentira..
Sou facilmente perturbada.
Sinto que tudo me esvoaça entre os dedos…
Como areia…
Como açúcar que provei e me recuso a gostar,
Pela dependência que causa…
Tão instável…tao estranhamente perdida…
Não ouço mais a tua voz a ecoar nos meus sonhos..
Não me esforço.
Tenho medo de cair desamparada…
Sinto que não sou mais quem fui…
Que crescer custa…
Quanto mais velha pior…
Mais custa…
Mais doí…
Perder-te!?ou perder-me!?
Orgulho!? Ou dor?!
Culpada!? Ou culpabilizada!?
Sentir?! Ou sentir-me?!
Em que nos baseamos!?
De que nos fazemos!?
Tenho medo de acordar,
Olhar para o lado e não te ver…
Mas…não percebo o que se passa outra vez…
Loucura ou desvario!?
Saudade!?
Pena pelo que se foi!?
Não sei…
Apenas espero que me mostrem…
Que me mostres…não me assustes…quero-te sincero!
Quero-te!?
Bárbara Teixeira
gosto do blog, como já puderam reparar sou escritora nata de poemas..um tanto ao quanto mórbidos...simplesmente alivio a tensão, para nao vomitar toda este mundo,que para mim, vive sobre podridão...muita gente prende-se há passagem terrea, outras simplesmente sao agarradas a coisas e a infelicidade..outras sao como eu...estranhas;)
Isabel
Um cemitério é, por definiçao, no imaginário popular o "locus horrendus" por excelência, o paradigma do "Dasein" heideggeriano, o princípio do fim (?). Todavia, há neste quadro (ou será sonho?) algo que o torna num lugar aprazível, um "locus amoenus" de paz, silêncio e serenidade.
Quanto a si, Bárbara, obrigado pelo seu contributo.
Sim, o cemitério é o locus horrendus por natureza, o Dasein de Heidegger, e exactamente por essa razão detesto cemitérios, assim como detesto a cultura neo-gótica e todo o tipo aproximação à "cultura sombrias". (Uma excepção: o gótico, o original, o primeiro e o mais primário!!! Sou paradoxal? Talvez!)Quanto à concha uterina, nesta pintura, não me inspira atracção pelo contexto escuro; por outro lado o Nascimento de Vénus, de Boticcelli, inspira-me, apesar de não estar dentro dos meus favoritos). O facto de estar, neste momento, a viver o luto por alguém muito próximo também não ajuda nada a uma aproximação a esta pintura. Até gosto de espaços claustrofóbicos, mas aqueles que são urbanos como os cenários "sujos" do "Blade Runner". Penso que sou irremediavel e excessivamente urbana... Obrigada pela resposta ao meu comentário! :) Isabel
Bem, eu não sou de modo algum um grande fã de Bocklin, mas aprecio alguma da sua obra. Esta pintura é especialmente bonita.
Já tive um livro fabuloso sobre a obra de Bocklin, mas por razões que não vêm ao caso, "perdi-o". No entanto, há uma "coisa" que ninguém me pode roubar--a imagem de um quadro no qual ele retrata um ritual pagão no meio de um bosque. Olhei centenas de vezes para aquela pira a arder, bem como para as personagens que a circundavam e ouvi-lhes os murmúrios mais íntimos, as preces, os segredos que trocavam com a beleza antiga daquele lugar mágico. Em toda a obra de Bocklin pressente-se um sentido muito grande do sagrado que me inebria particularmente...
Bem... O teu blog tá espectacular não sabia que tinhas um. Já agora... Curtes este tipo de assuntos ó é so mesmo para dares uma de intelectual, é que tudo isto podia ser copiado... Não me interpretes mal, mas é que não conhecia esta tua veia artística... Mas já que estamos numa de comentar a imagem, merece dizer que a imagem evoca o silêncio e a quietude que envolve a morte. A morte deve ser o que o quadro tenta transmitir: o silêncio, paz e descansos eternos. Coisa que não existe, as mortes são cada vezz mais violentas e agonizantes. A morte digna é um direito tão importante como o direito à vida.
Darkangel
Tenho muitas veias que eu próprio desconheço. Todavia, de uma coisa estou eu certo e seguro: detestam copiar as veias dos outros. Quanto ao morrer em paz, sim, é um direito como outro qualquer. No entanto, estou convencido que cada um de nós é de certo modo o construtor da sua própria morte, pois a vida que leva, os pensamentos que alimenta e os actos que pratica acabam por estar directa ou indirectamente envolvidos no tipo de morte que o espera. Bem sei que toda esta conversa pode soar a budismo de pacotilha, mas é aquilo em que acredito. Para finalizar, só gostaria de saber com quem é que estou a falar…Obrigado pela tua participação.
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