sexta-feira, fevereiro 29, 2008

GRACE JONES





Há dias, sofri o imprevisto de rever, na RPT 1, um filme que já muito amei por recomendação da Ana Teresa Pereira--o "Frantic", do Roman Polansky. A Ana Teresa tinha toda a razão: há argumentos que de tão labirínticos acabam por gerar em cada um de nós a sua própria estória (isto, inventei eu mesmo agora). No entanto, não foi isso que, desta vez, me seduziu no filme. Desta vez foi a música da esfíngica Grace Jones. Uma melodia soberba, estranhíssima, alienígena-disco sound, que Polansky soube incorporar muitíssimo bem na aparente falta de lógica do filme: "I have seen that face before".


Inesquecível o plano-sequência no qual o americano "maluco" dança com a francesa "traficante de droga".Absoluto aquele plano-sequência. Até apetece citar o Deleuze, mas não o vou fazer porque ainda não o li com olhos ler, mas apetecer, apetecia. Quem me dera dançar assim sobre a vida.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

DO REGICÍDIO DO REI-PÁSSARO DE PORTUGAL




Saudades do rei? Não, nem por isso. Reis e reizinhos há muitos, aliás. Arquétipos é que não. E o rei é um arquétipo, umas vezes inofensivo, outras vezes nem tanto, não é verdade? Quê? Reis loucos? Pois claro que sim, sempre os houve e muitos. E povos loucos? Ui, cala-te, boca! No entanto, este rei tu, Dom Carlos, homem pouco exigente, mas inteligente e culto, tinhas todas as condições para ser um rei moderno. Querem exemplos? Não tenho. Nem quero saber. Adiante.

Quanto mais te conheço e mais de ti sei, mais lamento o sucedido. Um tipo inteligente, gordo de pássaros e oceanografia como tu, sinceramente. Ó Carlos dos pássaros oceanográficos! Por que te terás esquecido da revolução francesa? Merda! Tiveste um império nas mãos, foste português, rei, parente de todas as grandes casas-ladras da Europa e, que diabo, enquanto o povo morria de fome, tu morrias de gordura. Gordo inteligente, pássaro naif, pássaro passarinho passarão, morreste mal.

Em suma, foste bruto como um português. Deixaste a vida passar-te ao lado. Pulha de ti mesmo, foste bruto e foste rei. Tu podias, potência-delicadeza do acto, se quisesses. E borraste-te todo, ó bruto.

Em suma: foste a fonte do republicanismo feroz. Por isso, gracias! Até sempre, ó rei-pássaro de Portugal!